Caô: origem da gíria que significa mentira ou engano

Por Redação
07/10/2025 17h27 – Atualizado há 16 horas

A palavra “caô” é uma das gírias mais populares da língua portuguesa no Brasil, usada para se referir a uma mentira, engano ou história inventada. Muito comum em conversas informais e na cultura urbana, o termo aparece com frequência em músicas, memes e até na fala cotidiana. Mas de onde vem essa palavra e como ela passou a ter esse significado?

A origem de “caô” está diretamente ligada à influência africana sobre o português brasileiro — especialmente do iorubá, idioma trazido ao país por povos africanos durante o período da escravidão. Assim como muitas outras palavras de origem africana, “caô” se misturou ao vocabulário popular e ganhou novos sentidos com o passar do tempo.

A origem africana da palavra “caô”

No idioma iorubá, a palavra “káò” (ou káó) significa “cumprimento” ou “saudação”, especialmente ligada à expressão religiosa “Caô, Cabecilê!”, usada nas religiões de matriz africana para reverenciar o orixá Xangô — divindade associada à justiça e à verdade.

Com o tempo, o termo começou a ser usado de forma diferente nas ruas, especialmente nas comunidades do Rio de Janeiro, onde “caô” passou a designar algo falso ou enganoso. A ideia era justamente o oposto do sentido original: enquanto Xangô representa a verdade, “caô” se tornou sinônimo de mentira.

O significado atual de “caô”

Hoje, “caô” é uma gíria muito comum em várias regiões do Brasil e é usada principalmente para indicar mentira, invenção ou conversa fiada.

Alguns exemplos de uso:

  • “Para de contar caô!” (Para de mentir!)
  • “Esse papo é caô.” (Essa história é mentira.)
  • “Ele deu o maior caô pra não sair de casa.” (Ele inventou uma desculpa.)

A palavra também deu origem a expressões derivadas, como “dar caô” (enganar alguém) e “contar caô” (inventar uma história). Em todos os casos, o sentido está ligado à falta de verdade ou à tentativa de enganar de forma leve, muitas vezes em tom de brincadeira.

“Caô” na cultura popular

A gíria se popularizou ainda mais através da música e da televisão, especialmente em produções que retratam o linguajar carioca. A expressão ficou famosa com a canção “Caô Cabecilê”, interpretada por artistas como Gilberto Gil e Clara Nunes, que resgata o sentido religioso original, ao mesmo tempo em que o termo circulava nas ruas com outro significado.

Essa dualidade mostra a riqueza da língua portuguesa no Brasil: uma palavra pode nascer com um sentido sagrado e, com o passar do tempo, ganhar um uso completamente diferente na fala popular, sem perder sua força cultural.

Conclusão

A gíria “caô” é um exemplo perfeito de como a língua portuguesa no Brasil é viva, diversa e repleta de influências culturais. De origem africana, o termo atravessou séculos e ganhou novos significados, tornando-se uma das expressões mais usadas para indicar mentira, engano ou história inventada.

Hoje, dizer que algo é “caô” é uma forma rápida e popular de denunciar o que não é verdade — um traço marcante da linguagem descontraída e criativa do português falado no país.