A diferença entre o dialeto judeu e o grego koiné no Novo Testamento

Por Redação
29/12/2025 10h01 – Atualizado há 5 dias

A compreensão do Novo Testamento passa, necessariamente, pela análise das línguas que influenciaram sua escrita e transmissão. Entre elas, destacam-se o dialeto judeu, fortemente ligado ao aramaico e ao hebraico, e o grego koiné, idioma no qual os textos foram efetivamente redigidos. Essa convivência linguística explica muitas particularidades de estilo, vocabulário e construção das narrativas bíblicas.

Entender a diferença entre essas duas formas de linguagem ajuda não apenas estudiosos da Bíblia, mas também leitores interessados em linguística, etimologia e história da língua, pois revela como fatores culturais e sociais moldam a forma como um texto é escrito e interpretado.

O que se entende por dialeto judeu no Novo Testamento

O chamado dialeto judeu não corresponde a uma língua escrita específica do Novo Testamento, mas sim à forma de falar dos judeus da Palestina no século I. Esse modo de expressão era fortemente influenciado pelo aramaico, língua do cotidiano, e pelo hebraico, usado em contextos religiosos.

Esse dialeto se manifesta indiretamente nos textos por meio de estruturas frasais, expressões idiomáticas e modos de pensar semíticos. Muitas frases atribuídas a Jesus, por exemplo, refletem construções típicas do aramaico, mesmo quando registradas em grego.

O que é o grego koiné

O grego koiné era a língua franca do mundo mediterrâneo oriental após as conquistas de Alexandre, o Grande. Mais simples e acessível do que o grego clássico, ele era amplamente utilizado em documentos administrativos, comércio e literatura popular.

O Novo Testamento foi escrito em grego koiné porque esse idioma permitia que a mensagem cristã alcançasse diferentes povos do Império Romano. Trata-se de um grego funcional, com vocabulário direto e construções menos elaboradas, adequado à comunicação ampla.

Diferenças linguísticas entre o dialeto judeu e o grego koiné

A principal diferença entre o dialeto judeu e o grego koiné está na estrutura do pensamento linguístico. As línguas semíticas, como o aramaico e o hebraico, privilegiam paralelismos, repetições e imagens concretas, enquanto o grego koiné segue uma lógica mais analítica e abstrata.

Isso explica por que muitos textos do Novo Testamento apresentam frases em grego que soam incomuns para leitores helenizados da época. São construções gregas com “alma semítica”, resultado da tradução mental do pensamento judaico para o idioma grego.

A influência do dialeto judeu na escrita em grego

Embora o Novo Testamento tenha sido escrito em grego koiné, seus autores eram, em grande parte, judeus ou profundamente influenciados pela cultura judaica. Isso fez com que conceitos teológicos hebraicos fossem expressos em palavras gregas que nem sempre tinham equivalência exata.

Termos como “reino”, “justiça” e “salvação” carregam sentidos moldados pelo pensamento judaico, mesmo quando apresentados em vocabulário grego. Essa fusão linguística é uma das marcas mais importantes do texto bíblico.

Por que essa diferença é importante para a interpretação do texto

Conhecer a distinção entre o dialeto judeu e o grego koiné é essencial para evitar interpretações literais equivocadas. Muitas expressões do Novo Testamento só fazem pleno sentido quando compreendidas à luz do pano de fundo semítico.

Essa análise linguística permite uma leitura mais fiel ao contexto histórico e cultural dos textos, além de enriquecer o entendimento sobre como a língua influencia a transmissão de ideias religiosas.

A relevância linguística dessa convivência de idiomas

A coexistência do dialeto judeu e do grego koiné no Novo Testamento é um exemplo claro de contato linguístico. Ela mostra como uma mensagem pode ser adaptada a um novo idioma sem perder suas raízes culturais.

Do ponto de vista da língua portuguesa, esse fenômeno também ajuda a compreender a origem de muitos termos religiosos e expressões que chegaram até os dias atuais por meio de traduções sucessivas.