A inclusão de novas palavras e gírias no vocabulário oficial

Por Redação
04/09/2025 11h53 – Atualizado há 18 horas

A língua portuguesa está em constante transformação. Ao longo da história, ela incorporou termos de diferentes origens, refletindo mudanças sociais, culturais e tecnológicas. Nos últimos anos, palavras vindas do inglês, da internet e da cultura pop têm ganhado espaço e despertado debates sobre sua legitimidade. Um dos exemplos mais recentes é “cringe”, expressão que se popularizou nas redes sociais e que levantou a questão: afinal, deve ou não fazer parte do vocabulário oficial?

O que significa “cringe”?

A palavra “cringe”, de origem inglesa, significa sentir vergonha ou desconforto, geralmente em situações consideradas constrangedoras. No Brasil, o termo ganhou força principalmente em 2021, durante discussões entre gerações na internet, quando jovens da chamada “Geração Z” começaram a usar a palavra para se referir a hábitos e comportamentos da “Geração Y” (os chamados millennials). Desde então, virou parte do vocabulário popular, especialmente nas redes sociais.

Palavras estrangeiras que já fazem parte do português

Esse fenômeno não é novidade. O português já incorporou diversos termos estrangeiros ao longo do tempo. Alguns exemplos são:

  • Bife: adaptação da palavra inglesa beef.
  • Futebol: originado de football.
  • Chope: vindo do alemão Schoppen.
  • Bumerangue: do inglês boomerang, com origem em línguas indígenas da Austrália.
  • Suéter: derivado do inglês sweater.
  • Esquisito: que chegou ao português pelo latim, mas com sentido influenciado por outras línguas, mudando completamente de “estranho” para “curioso”.

Esses exemplos mostram que a entrada de palavras de outras culturas no nosso idioma é um processo natural e inevitável.

O impacto da cultura digital

Na era da internet, o processo de adoção de novos termos é ainda mais rápido. Expressões que surgem em memes, músicas, séries ou filmes se espalham pelo mundo em questão de dias. Alguns exemplos recentes são:

  • Spoiler: usado para se referir à revelação antecipada de informações sobre filmes, séries ou livros.
  • Cancelamento: derivado do inglês cancel culture, ganhou novo sentido nas redes sociais.
  • Streamer: pessoa que transmite vídeos ao vivo em plataformas como Twitch ou YouTube.
  • Fake news: expressão usada para designar notícias falsas.
  • Hashtag: símbolo (#) que organiza publicações em redes sociais.
  • Selfie: foto tirada de si mesmo, geralmente com a câmera frontal do celular.

Todos esses termos já fazem parte do nosso cotidiano, mesmo que ainda não estejam oficialmente dicionarizados em algumas obras.

Exemplos de palavras já incluídas em dicionários

Alguns termos relativamente novos já foram reconhecidos em versões recentes de dicionários da língua portuguesa. É o caso de:

  • Blogueiro: referente a quem escreve blogs.
  • Podcast: programa de áudio digital.
  • Emoji: ícone gráfico usado em mensagens.
  • Internauta: usuário da internet.
  • Download: transferência de dados de um servidor para um dispositivo.
  • Tuitar: verbo derivado do uso da rede social Twitter.

Essas inclusões mostram como a língua acompanha as transformações sociais e tecnológicas.

Os argumentos a favor da inclusão

A favor da inclusão de palavras como “cringe”, estão aqueles que defendem a língua como um organismo vivo, que precisa refletir a realidade dos falantes. Se milhões de pessoas utilizam um termo em diferentes contextos — de memes a reportagens jornalísticas —, registrá-lo oficialmente é uma forma de legitimar o uso e facilitar a comunicação.

Os argumentos contra a inclusão

Por outro lado, críticos argumentam que a absorção excessiva de estrangeirismos pode enfraquecer a identidade do português. Palavras como “start-up” poderiam ser substituídas por “empresa emergente”, e “feedback” poderia ser trocado por “retorno” ou “resposta”. Para esses especialistas, adotar expressões estrangeiras sem necessidade pode empobrecer a língua.

Outras palavras em discussão

Além de “cringe”, existem diversas outras expressões que estão em uso, mas que ainda dividem opiniões sobre sua inclusão nos dicionários. Entre elas:

  • Crush: pessoa por quem alguém sente atração.
  • Shippar: torcer por um casal (real ou fictício).
  • Lacre: usado para se referir a algo impressionante ou surpreendente.
  • Ranço: embora já exista em português, ganhou novo significado ligado a antipatia ou aversão.
  • Mood: expressão usada para indicar um estado de espírito momentâneo.
  • Stalkear: acompanhar de forma obsessiva a vida de alguém pelas redes sociais.
  • Viralizar: tornar-se muito popular rapidamente, geralmente na internet.

Todas essas palavras revelam como a linguagem da cultura digital está impactando diretamente a língua portuguesa.

Conclusão

O debate em torno da inclusão de palavras como “cringe” no vocabulário oficial mostra que a língua portuguesa é dinâmica e adaptável. Ela se transforma conforme a sociedade evolui, absorvendo influências externas e criando novos significados. Embora existam argumentos contra a adoção de estrangeirismos, é inegável que muitos desses termos já fazem parte do dia a dia de milhões de pessoas. Assim, o desafio não é barrar as mudanças, mas entender que a língua está sempre em movimento — e que isso é um sinal de vitalidade.