Como a linguagem de filmes e séries influencia a fala no dia a dia
03/09/2025 21h01 – Atualizado há 1 dia

A língua portuguesa está sempre em transformação, absorvendo palavras, expressões e modos de falar de diferentes contextos culturais. Nos últimos anos, filmes e séries de TV populares têm se tornado grandes responsáveis por essa mudança. Cenas icônicas, falas de personagens marcantes e bordões engraçados ultrapassam a ficção e passam a fazer parte do vocabulário cotidiano, especialmente entre os jovens, mas também influenciando adultos em conversas do dia a dia.
Essa influência acontece porque as produções audiovisuais têm um enorme alcance e impactam milhões de pessoas ao mesmo tempo. Quando uma expressão é repetida por personagens carismáticos, rapidamente ela ganha novas funções: pode ser usada como piada, como forma de identificação com um grupo ou até como comentário crítico sobre a realidade.
A força da cultura pop na linguagem
O fenômeno não é novo. Desde o cinema clássico, frases de impacto se eternizaram. Quem nunca ouviu alguém dizer “Eu voltarei” (“I’ll be back”), eternizada por Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro? Ou “Que a força esteja com você”, de Star Wars, usada até hoje para desejar sorte em diferentes situações?
No universo das séries, os exemplos também são abundantes. Expressões como “Winter is coming” (Game of Thrones), usada para alertar sobre tempos difíceis, ou “This is fine”, que nasceu de um quadrinho, mas se popularizou em memes de séries animadas, se tornaram símbolos de ironia e adaptação ao cotidiano.
Esses casos mostram como a cultura pop cria uma linguagem compartilhada, que atravessa fronteiras, gera conexão entre pessoas e até influencia o modo como se constrói o humor nas redes sociais.
Expressões que viraram parte do dia a dia
Muitos bordões de filmes e séries deixaram de ser apenas citações para se transformar em expressões comuns no português contemporâneo. Alguns exemplos:
- “How you doin’?” – bordão do personagem Joey em Friends, que virou forma divertida de paquera ou cumprimento.
- “D’oh!” – expressão de frustração de Homer Simpson em Os Simpsons, já incorporada até em dicionários.
- “Bazinga!” – usada por Sheldon Cooper em The Big Bang Theory para marcar uma pegadinha ou ironia.
- “Isso é muito Black Mirror” – frase usada para descrever situações tecnológicas estranhas ou assustadoras, em referência à série.
- “Na dúvida, escolha o vermelho/azul” – inspirado em Matrix, o diálogo das pílulas se tornou metáfora para escolhas difíceis.
No Brasil, novelas também têm papel fundamental. Expressões como “É chique, benhê” (de Rainha da Sucata), “Inshalá!” (de O Clone) ou “Não é brinquedo, não” (de Senhora do Destino) se tornaram parte da linguagem popular, mostrando que não só produções internacionais, mas também nacionais, contribuem para a transformação do falar cotidiano.
O encontro entre tradição e inovação
O mais interessante é perceber como essas expressões modernas convivem com ditados e frases populares mais antigos. Enquanto “ficar a ver navios”, “chutar o balde” ou “quem não tem cão, caça com gato” continuam vivos no vocabulário, novos bordões vindos da televisão, do cinema e das plataformas de streaming ampliam as possibilidades de expressão.
Esse encontro cria uma linguagem híbrida, onde o clássico e o contemporâneo se misturam. Dessa forma, falar como um personagem famoso pode tanto ser uma brincadeira entre amigos quanto uma maneira de reforçar identidades culturais e gerar conexão entre diferentes gerações.
A língua como reflexo da cultura
A influência das produções audiovisuais mostra que a língua é viva, dinâmica e reflexo da cultura. Filmes e séries não apenas entretêm, mas também moldam a maneira como pensamos, sentimos e nos comunicamos.
Ao adotar bordões e expressões vindos das telas, falantes da língua portuguesa estão, na verdade, participando de um fenômeno cultural maior: transformar histórias ficcionais em parte da realidade. E essa realidade, por sua vez, volta a inspirar novas produções, em um ciclo constante de renovação linguística.